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Enviada em: 08/10/2018

Ao refugiar-se no Brasil em meados do século XX, o escritor austríaco Stefan Zweig, fascinado pelo potencial país, escreveu um livro ufanista cujo título é até hoje repetido: "Brasil, um país do futuro". No entanto, quando se observa a deficiência de medidas na luta contra a violência nos estádios do Brasil — "País do futebol" —, hodiernamente, verifica-se que essa profecia é constatada na teoria e não desejavelmente na prática. Nesse sentido, torna-se evidente o menoscabo governamental e o individualismo dos torcedores, bem como a necessidade de uma ação conjunta do governo com o corpo social para combater o impasse.   Mormente, é indubitável que a questão constitucional e sua ineficiência estejam entre as causas do problema. Tal fato se reflete nos escassos investimentos em segurança pública nos estádios brasileiros e em maior eficiência na aplicação das leis vigentes de combate à violência, medidas que tornariam o ambiente esportivo bem mais pacífico, e devido à falta de administração e fiscalização por parte de algumas gestões, isso não é firmado.    Ademais, o pensamento individualistas dos torcedores brasileiros impulsiona a violência. Isso ocorre porque, conforme afirma o sociólogo Zygmunt Bauman, na obra "Modernidade Líquida", o individualismo tornou-se uma das principais características — e o maior conflito — da pós-modernidade, e, consequentemente, grande parte da população tende a ser incapaz de tolerar diferenças. Dessa forma, o sujeito, ao estar imerso nesse panorama líquido, acaba por ver o torcedor do clube adversário como seu inimigo, utilizando, muitas vezes, a brutalidade para representar um tipo de defesa e supremacia do seu time sobre o outro. Por conseguinte, o número das agressões tende a crescer, segundo dados do sociólogo Mauricio Murad, em 2014, foram 18 mortes por rivalidades.    Urge, portanto, que indivíduos e instituições cooperem para que se remova essa pedra no meio do caminho, parafraseando Carlos Drummond de Andrade. Destarte, em parceira com o Ministério da Justiça e a Polícia Civil, o Estado deve implementar um projeto de segurança nos estádios, no qual deve ser feito o cadastramento de torcedores, o uso de reforço policial e a expulsão temporária aos que desviarem da pacificidade entre os jogos, de modo que se reduza os casos da agressividade. Além disso, o Ministério das Comunicações, em parceria com os clubes, deve veicular propagandas na TV e na internet, que visem o combate à violência e a promoção da tolerância e do respeito, afim de que ocorra a quebra do individualismo e da intolerância. Assim, talvez, o Brasil poderá transformar a profecia de Zweig em prática, e não apenas em teoria.