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Enviada em: 24/10/2017

A infame frase de Margaret Thatcher "não existe essa coisa de sociedade" é ao mesmo tempo uma reflexão perspicaz sobre a mudança do carácter do capitalismo, uma declaração de intenções e uma profecia realizada: "não sociedade" significa ignorar o mundo ao redor. Essa ideia de desconsiderar o coletivo constitui-se como um enclave ao mundo moderno, posto que é necessário compreender que a rivalidade entre partes não coesas de um mesmo corpo social é o que causa a violência no estádio. Diante dessa lógica, cabe analisar os fatores que fomentam a violência nas arenas de futebol e inquirir por que essa questão exige uma atuação tanto do poder público quanto da sociedade.         É importante, em uma primeira abordagem, atentar para o fato de que, como afirma o filósofo con-temporâneo polonês Bauman, a mídia coopera para o aumento da selvajaria ao proliferar a sensação de medo constante para os indivíduos. Nesse sentido, percebe-se que quando os meios de comunica-ção bombardeiam a sociedade com relatos de inúmeros crimes, ataques, etc. ocorre, passivamente, a transformação de algo antes visto como horrendo em situações que agora são encaradas com contornos de normalidade. Vale ressaltar, nesse caso, que as torcidas organizadas tomam feições de um verdadeiro corpo de guerra quando defendem o ideal de seus times. Vê-se, com isso, que as torcidas partem do pressuposto da normalização da violência para defenderem seus ideários.         Outro fator, que também pode ser observado nessa perspectiva, é a constatação da inoperância do Estado frente à garantia de ordem. Isso significa que, do ponto de vista hobbiniano, onde o Estado sur-ge como um meio de poder que tira o homem do estado de natureza - aquele onde o homem age por instinto e é mau -, ele não está cumprindo como seu papel estabelecido pelo contrato social. Aliás, é fato que a tentativa de elitizar o futebol, que está a ocorrer, erra na medida em que a violência não escolhe renda ou classe social. Logo, é pontual sintetizar a falta de uma providência efetiva contra o questão por parte do poder público.        Todo esse contexto exige medidas conscientes. Por isso é imprescindível que a Secretaria de Segurança Pública estabeleça como meta a implantação de um disque denúncia, promovendo o anonimato -como os que já funcionam para os outros crimes e se mostram bem satisfatórios-,  para que a denúncia contra possíveis casos de briga entre torcedores possa ser feita sem medo de represálias. Ademais, é importante que a mesma Secretaria crie um plano operacional, por meio da opiniões de estudiosos sobre o assunto, a fim de que ações realmente efetivas possam ser tomadas por parte do governo. Agindo dessa forma, espera-se conter os casos frequentes de agressões que acontecem no meio futebolístico.