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Enviada em: 20/10/2017

Coesão social        “O que é o homem para o homem? Nem um deus, nem um lobo, mas um efeito da cultura”. Esse pensamento da psicanalista francesa Nathalie Zaltzman leva a refletir sobre a cultura permeada no esporte. Em Atenas, as Olimpíadas eram promovidas a fim de suscitar um estado de união entre os diferentes povos, isto é, um instrumento de coesão social. Entretanto, ao se analisar o cenário brasileiro, percebe-se que nos eventos esportivos, sobretudo no futebol, tem ocorrido práticas violentas tanto dentro quanto fora dos estádios, muitas das vezes associadas aos problemas sociais, tais como o racismo e a homofobia. Diante disso, torna-se imprescindível compreender por que ocorre a violência nos estádios brasileiros, bem como avaliar o seu impacto na sociedade.        Em face dessa ideia, é essencial pontuar, em um primeiro olhar, que analisar a violência no esporte demanda entender a violência social, haja vista que o público frequentador dos jogos é parte da sociedade. Sob essa ótica, conforme o sociólogo Émile Durkheim, a violência é inerente a condição humana, devido à generalidade desse fato social. No entanto, apesar de ocorrer também em outros países, a violência social no Brasil é mais aguda, o que reflete no esporte. Aliás, é indubitável que, em espaços esportivos, o torcedor pode se sentir empoderado, já que, em grupo, tem a falsa sensação de proteção e de anonimato, o que aguça a agressividade humana.        Outro fator, que também pode ser considerado, em uma perspectiva pragmática, é que a violência é um dos principais motivos que afastam os torcedores dos espaços esportivos. Isso porque se instaura um sentimento de medo e de insegurança referente não só à violência física, mas também à agressão psicológica, como o bullying e as várias formas de preconceito. Nesse contexto, são frequentes os casos com desfechos trágicos, como o espancamento do torcedor corintiano após o jogo em Curitiba, em junho deste ano, assim como atos de vandalismo e de predação do espaço público e privado.        O desafio que se constrói, portanto, é promover mudanças para comedir a atual conjuntura. Para isso, é indispensável que o Governo Federal, em integração com os estados e municípios, crie um Plano Nacional de Segurança, por intermédio da criação de delegacias especializadas e do aumento do efetivo policial nos entornos dos estádios, com o intuito de identificar e punir os torcedores violentos. Além disso, é imperativo que o Poder Legislativo atue na elaboração de uma legislação específica, prevendo penas especiais para os infratores e o veto de sua entrada nos eventos esportivos por um determinado tempo. Por fim, é preponderante que os clubes e os organizadores das competições proporcionem bilhetes baratos para a família, uma vez que sua presença mitiga a ação de vândalos.