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Enviada em: 20/10/2017

Conforme o historiador Eric Hobsbawn, no século XX, ocorreu profunda revolução moral e cultural, uma dramática transformação das convenções de comportamento individual e coletivo. Nessa linha histórica, basta lançar um olhar aguçado sobre os episódios de violência que ocorrem nos estádios brasileiros, para perceber que tais alterações estão vinculadas às relações que vigoram entre os atores sociais. Nesse sentido, é fundamental analisar os fatores que desencadeiam esse comportamento violento nos jogos de futebol e examinar quais são os efeitos dessa problemática para o corpo social.   Em face dessa ideia, cabe pontuar que a violência, no Brasil, tem raízes históricas, uma vez que os ideais conservadores dominantes, que persistem, desde o período colonial, potencializam desigualdades entre os segmentos populacionais. Isso significa que essas diferenças acarretam em defasagem de educação e de assistência básica para os menos privilegiados, fomentando focos de tensão social. Esse argumento atesta a ideia defendida por Hobsbawn, na medida em que fatores como pobreza, falta de oportunidade de emprego e de acesso ao sistema de educação e de saúde adequados movem os cidadãos a manifestarem revoltas e contestações. Dessa forma, fica claro que episódios de violência nos estádios refletem o descontentamento das minorias, que buscam na torcida uma válvula de escape da realidade.         A partir dessa fundamentação histórica, há outro ponto relevante, nessa discussão, harmonizado com a ideia do pensador polonês Zygmunt Bauman. Consoante aos estudos do sociólogo, as relações vivenciadas pelos atores sociais são fluidas e efêmeras, efeito do que o autor denominou Modernidade Líquida, confirmando que esse comportamento hostil é fruto da falta de solidez contemporânea. Corroborando esse ponto, verifica-se que a intolerância e a agressividade presenciadas nos estádios disseminam a cultura da violência e do medo no país, haja vista que a insegurança desmotiva a ida das pessoas de bem e das famílias aos estádios. Aliás, não se pode negar que essa conduta causa a depreciação de bens públicos e privados, invertendo o real propósito do esporte como promotor de lazer. Logo, torna-se pontual estabelecer como meta o bem-estar coletivo.        Posto isso, cabe ao Ministério da Justiça em parceria com a Federação de Futebol, fiscalizar o cumprimento do Estatuto do Torcedor, por meio do aumento no número de seguranças nos estádios, com o fito de reduzir as práticas de vandalismo nesses espaços. Ademais, é fundamental que os clubes e seus jogadores elaborem palestras e campanhas publicitárias nas escolas e nos meios de comunicação, com o intuito de educar e conscientizar os cidadãos, para que possam torcer com respeito e tolerância. Com isso, espera-se reverter esse quadro de selvageria e insegurança no país.