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Enviada em: 26/10/2017

"Para captar o visual de um chute a gol e a emoção" o entusiasmo na letra de Chico Buarque relativo à cultura futebolística brasileira encobre uma nefasta feição dessa estrutura civil. Subitamente, a violência nos estádios tomou, nos últimos anos, uma dimensão pavorosa, a qual delata uma sociedade delineada por condutas instáveis e imorais. De certo, tal panorama carece de correção haja vista os impactos destrutivos que acarreta, tramitando por setores do econômico ao social.     Em primeira instância, vislumbra-se a prerrogativa elementar para incidência do conflito em questão: a emoção demasiada. Confluente a isso, cita-se Freud que propôs a dualidade da psique humana, repartida em razão e instinto, no qual o segundo acionado em situações de furor, frequentemente, arquiteta ações contrárias à lógica do humano social. Analogamente, a tensão na partida de futebol entre vitorioso e perdedor desperta um gatilho no torcedor. Este, por sua vez, dominado pelo sentimento superficial desponta comportamento agressivo que fomentado pelo fanatismo compartilhado desemboca em fins fatais e criminosos. Cabe ainda pontuar que, a impunidade averiguada em tais eventos, omite a coerção punitiva responsável por sucumbir o domínio instintivo ao racional.     Ademais, a contemporaneidade marcada, de acordo com Bauman, pelas relações voláteis reflete esse traço na família e escola. Por conseguinte, o processo de educação do indivíduo negligencia a indução de um padrão moral, eminente para a saúde social. Dessa forma, propicia-se a dispersão de posicionamentos de violência e intolerância, aspectos representativos dos conflitos nos estádios, em que a rivalidade das torcidas exala a carência de humanização da sociedade. Acerca disso, denota-se a notoriedade da valorização das relações humanas para perpetuação dos pilares da harmonia coletiva.      A conjuntura referida exibe-se no levantamento do sociólogo Mauricio Murad, que denuncia o Brasil como campeão em números de torcedores mortos em 2014. Além de perdas humanas, a prática em foco também reverbera em vandalismo, a saber da destruição de transporte público, que suscita impactos à economia governamental, corroborando reflexo para os civis.   Em suma, a violência nos estádios brasileiros apresenta-se como flagelo da realidade nacional, que necessita de ações pontuais para seu combate. Conforme tal meta, cabe ao Estado, por meio do viés legislativo, criar instrumento punitivo rigoroso a qualquer prática criminosa cometida em estádios a fim de freá-las pela coerção. Além disso, é viável os clubes oficiais, em parceria com a mídia, fomentar a tolerância e respeito ao adversário, através de campanhas televisivas objetivando tornar as partidas de futebol um local amistoso. Outrossim, escola e família possuem responsabilidade de promover infusão de ética e moral no indivíduo pela educação, visando a edificação de uma sociedade íntegra.