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Enviada em: 31/10/2017

No romance 1984, o escritor George Orwell cria uma sociedade infernal. Ou seja, um organismo social que controla todos os atos, gestos, palavras e pensamentos dos indivíduos. Há a figura do Big Brother (O Grande Irmão), que, pela mentira e pelo medo, domina o estado de espírito da população. Em uma analogia à narrativa de Orwell, compreende-se que ao discutir-se sobre a violência nos estádios, a ficção imita a realidade, uma vez que, assim como na obra, a mídia pode gerar a dominação de consciência e a imposição de uma cultura, como a cultura de violência.     É imprescindível, em uma primeira abordagem, compreender as analogias implícitas em um do romances mais citados do século XX. A partir desse contexto, cabe analisar que, na obra, ninguém viu o Grande Irmão em pessoa, ou seja, o tirano mais dominador é, também, o mais abstrato, semelhante ao controle que a mídia pode exercer na sociedade. Em harmonia ao enredo literário, pode-se afirmar que a liquidez na identidade dos indivíduos propiciou a curiosidade e o desejo pela narração da violência, a qual passou a ser estimulada, de forma implícita, pelos telejornais e, consequentemente, reproduzida nos convívios sociais. Pode-se citar, por exemplo, as inúmeras brigas nos estádios de futebol entre as torcidas rivais, geradas, principalmente, pela influência das mídias. No entanto, não é aceitável que ainda exista um regime que estimule a subjugação de um, em detrimento de outro, o que deve, pois, ser repudiado em uma democracia.     Nessa perspectiva, cabe avaliar os efeitos desse processo, à luz da concepção sociológica de Zygmunt Bauman. Segundo o pensador, na obra "Modernidade Líquida", o individualismo é uma das principais características da modernidade e, por conseguinte, o egoísmo e nas questões sociais leva uma parcela da população a ser incapaz de tolerar as diferenças. Esse problema se destaca em áreas específicas no Brasil, onde, apesar de ser considerado "O país da diversidade", há quem exija do outro a mesma postura daqueles que dela divergem. Assim, um caminho possível para combater a violência nos estádios é, primeiramente, desconstruir o principal problema da atualidade: o individualismo.     A fim de garantir, portanto, a harmonia social, são necessárias transformações na sociedade. O Estado deve, então, promover maior fiscalização nos estádios, por meio de sistemas, como disque denúncia, a fim de inibir os agressores. Além disso, é fundamental que o Ministério do Esporte incentive os clubes de futebol à ofertar ingressos mais baratos para a família, por meio de isenções, já que esse público torna o ambiente mais equilibrado. Com essas ações acredita-se que o alerta ficcional de Orwell possa ser compreendido e o estado de espírito da pululação não seja dominado pelo individualismo.