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Enviada em: 17/10/2017

Desde a Idade Média, os atos de violência eram vinculados às manifestações de imposição e poder. Diante desse panorama, os jogos entre os gladiadores, que lutavam no Coliseu, em Roma, sucediam ao público a afeição à brutalidade e a justificativa baseada nos valores culturais. No entanto, após séculos de avanço e proteção aos direitos humanos, alguns indivíduos ainda refletem esses traços na competição esportiva na sociedade vigente. Desse modo, deve-se analisar como a herança-cultural aliado mídia e a impunidade estatal corroboram a violência nos estádios brasileiros de futebol.   Em primeiro plano, nota-se que, a herança histórico-cultural aliado à mídia são os principais protagonistas desse impasse. Isso decorre desde o período da Ditadura Militar, século XX, precursor do legado esportivo do país, no qual foi impulsionada a valorização do sentimentalismo aos times e, até mesmo, uma conversão da paixão pelo futebol em um estilo de vida. Nesse sentido, de maneira análoga ao fenômeno físico de refração, que indica a troca do meio de propagação da luz, a mudança de século não fora um empecilho para estagnação do problema, visto que a mídia tende a oferecer espaço ora ao discurso de ódio, ora ao fanatismo. Em decorrência disso, torcedores adotam a metáfora conceitual “Futebol é guerra” e cria-se um nacionalismo imperativo, ou seja, torcidas organizadas usam a agressão para representar um tipo de defesa e supremacia do clube adversário sobre o outro.    Atrelado a isso, percebe-se que, a impunidade dessas ações hostis favorece o contínuo desrespeito àqueles que vão apenas para apreciar as partidas e, até mesmo, inverte a visão do esporte como método de inclusão social, defendida pelos próprios clubes. Desse modo, o Brasil lidera o ranking entre os países que contém mais mortes em estádios de futebol, o que comprova que a segurança nesses lugares é ineficaz, visto que, muitas vezes, os agressores não são identificados ou recebem leves advertências. Não ao acaso, conforme o sociólogo Maurício Murad, o principal pesquisador brasileiro da violência no futebol, em 2017 dos confrontos entre torcidas – ou entre torcedores e a polícia – apenas 3% obteve punição em todo processo e foram registradas a cada uma semana cerca de três mortes.    É imprescindível, portanto, a mudança na conduta daqueles que usam a ferocidade ao combate das rivalidades. Para isso, cabe a mídia e ao Ministério da educação junto as escolas, difundir propagandas e palestras com viés de ensino aos valores éticos e morais em prol de uma melhor convivência cidadã.   Ademais, o Ministério do Esporte do Brasil, assim como na Inglaterra- país de referência da segurança nos estádios- deve propor o cadastramento de torcedores, o uso de reforço policial e expulsão temporária aos que desviarem da pacificidade entre os jogos. Assim, o reflexo arcaico da Idade Média poderá se converter em um coletivismo ético e auxiliar a integração social sem a violência nos esporte.