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Enviada em: 24/03/2018

Segundo o contratualismo de Thomas Hobbes, o homem, em seu estado de natureza, encontra-se em constante guerra e destruição. No Brasil contemporâneo, a violência nos estádios aproxima os indivíduos do estágio pré-civilizatório descrito pelo pensador. Nessa perspectiva, foi criado o Estatuto do Torcedor, em 2003, no intuito de garantir a segurança dos torcedores, no entanto, questões governamentais e sociais ainda atrasam a resolução dessa questão.        É preciso destacar a anomia estatal como fator crucial da violência nos estádios e, por conseguinte, da insegurança que restringe a liberdade dos torcedores. Conforme Zygmunt Bauman, na obra "Medo Líquido", a falta de confiança em uma instituição reguladora propaga o medo na sociedade. A partir dessa premissa, é possível analisar a morosidade da implementação do Estatuto do Torcedor como responsável pelas constantes agressões físicas e vandalismos observados nos jogos, uma vez que a punição dos envolvidos e a elaboração de planos de ação no combate à essas transgressões, princípios contidos no Estatuto, não são realizadas, na maioria das vezes, fomentando novos crimes e limitando o direito ao lazer dos cidadãos.       Ademais, a violência nos estádios não se limita à agressões físicas, posto que insultos de cunho racista, homofóbico e machista também são comuns nesses ambientes e contribuem para a construção de uma atmosfera pré-civilizatória semelhante ao estado de natureza caótico de Hobbes. Tais manifestações refletem o caráter intolerante às diferenças da sociedade brasileira, a qual, divergindo do princípio Imperativo Categórico da ética de Imannuel Kant, não age de maneira que suas ações possam se tornar leis universais.       Em face ao exposto, o combate à violência nos estádios carece de ações estatais e escolares. Concerne ao Governo Federal a elaboração de planos de segurança pública voltados a esse problema, os quais, por meio da capacitação de policiais, a partir de cursos ofertados em todo o país, e da criação de delegacias especializadas em transgressões cometidas nesses ambientes, construídas próximas a estes, reduzam a impunidade, desencorajando novos crimes, bem como garantam a segurança dos torcedores, conforme dita o Estatuto do Torcedor. Por fim, cabe Escola a organização de projetos educacionais voltados ao estudo da ética kantiana que, a partir de seminários e palestras ministradas por professores de filosofia, desenvolvam a tolerância às diferenças nos estudantes. Somente um Estado ativo e uma sociedade tolerante podem solucionar a questão da violência nos estádios.