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Enviada em: 03/07/2019

Na Grécia Antiga, as cidades eram entendidas como espaços de discussão democrática, que visavam a atender às necessidades distintas de vários grupos. No entanto, essa noção de diálogo entre diferentes estratos sociais não está presente nas urbes brasileiras, marcadas pela imensa disparidade entre esses, de onde emerge a violência. Nesse sentido, vale analisar a contribuição da desigualdade social à violência urbana no Brasil, assim como os impactos dessa na dinâmica das cidades.          Primeiramente, é indubitável que a desigualdade social está entre as raízes do problema. Segundo Karl Marx, a infraestrutura material da sociedade influencia a política e as aspirações dos indivíduos. Dentro dessa lógica, ambientes como o das urbes brasileiras, nos quais ricos possuem acesso a serviços de qualidade ao mesmo tempo que pobres não têm atendidas necessidades básicas, como saneamento, só reforçam a realidade de que os direitos e possiblidades estão disponíveis àqueles, enquanto a esses cabe a marginalidade. Prova disso é que aproximadamente 63% dos crimes urbanos são cometidos por infratores advindos de bairros precários, conforme o IBGE. Desse modo, a cidade aparece como emblema da opressão das elites sobre o proletariado, na qual a luta de classes, na forma de crime, prevalece sobre o diálogo.    Não menos importante é o fato de que a violência gera alterações na vivência urbana. Nesse contexto, o direito de livre-trânsito dos cidadãos, garantido pelo Artigo 5º da Constituição, muitas vezes é negado aos moradores de regiões carentes de serviços públicos, visto que os confrontos entre criminosos e policiais são mais frequentes nesses locais. Além disso, a permanente sensação de hostilidade na urbe acirra o isolamento social, cujos símbolos máximos são os condomínios fechados. Essas construções luxuosas vão contra a ideia de Habermas da cidade como esfera pública, na qual todos, numa prática deliberativa, constroem espaços de convivência mútua. Dessarte, emergem cada vez mais ambientes restritos e privados em detrimento dos abertos e coletivos.     Portanto, urge que o Estado tome providências sobre essa problemática. Impende, então, ao Governos Estaduais e Municipais, em parceria com a União, o fornecimento de infraestrutura e serviços aos bairros que, consoante dados do IBGE, mais necessitem desse apoio. Isso pode ser feito mediante a construção, nas referidas áreas, de escolas com boas instalações, áreas de lazer e ambientes culturais como teatros, com o fito de promover a equidade de oportunidade entre os cidadãos. Assim, surgirão cidades mais próximas das antigas gregas.