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Enviada em: 08/10/2018

Em seu conto “A Causa Secreta”, Machado de Assis retrata o espaço urbano como um local recôndito e obscuro que, devido à arquitetura de suas ruas e becos, viabiliza a prática de ações violentas e oculta seus agentes. Nesse viés, apesar de ter sido publicada em 1885, a obra parece dialogar com o atual contexto brasileiro, visto que o índice de violência urbana cresce exponencialmente, seja devido à exclusão social, seja pela certeza de impunidade.        Primeiramente, convém ressaltar a relevância do processo de urbanização para a manutenção das desigualdades sociais. Nesse âmbito, insere-se o Governo Vargas, durante o qual a mecanização do campo e a Consolidação das Leis Trabalhistas nas cidades atraíram um elevado número de pessoas para a zona urbana do país. Contudo, esse processo, dissociado do crescimento urbano, deu origem aos fenômenos de segregação socioespacial, favelização e gentrificação, de modo a favorecer a exclusão das minorias e a intensificação das divergências socioeconômicas. Dessa forma, houve o aparecimento de áreas sem condições básicas que moldaram alguns cidadãos a seguirem ideais de rebeldia e insubordinação, culminando na propagação da violência.        Em segunda instância, assim como a negligência para com a população periférica corrobora a opressão, o sentimento de impunidade contribui para o mesmo efeito. Nesse cenário, dados obtidos pela Associação Nacional de Jornais em 2017 indicam que o Brasil aparece pelo segundo ano consecutivo no Índice Global de Impunidade; ademais, o Sindicato dos Policiais Federais afirma que apenas 8% dos casos de assassinato cometidos em 2015 no país foram apurados. Assim, tem-se justificado o pensamento Hobbesiano, de que o instinto humano, quando dissociado do poder Estatal, dá origem a uma guerra de todos contra todos.        Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem o problema vigente. Para tal, é conveniente que ONGs realizem ações de amparo social em comunidades carentes, por meio da promoção de campanhas que visem à doação de roupas e alimentos para pessoas em condição de vulnerabilidade, a fim de proporcionar uma vida mais digna a essa população. Outrossim, é necessário que o corpo social exija, por intermédio de protestos pacíficos, uma maior eficiência dos poderes Judiciário e Executivo, para que sejam julgados os casos de violência urbana e as punições sejam efetivadas. Quem sabe, assim, amenizando a causa e agindo sobre o efeito, o cenário brasileiro seja diferente do observado no conto machadiano.