Materiais:
Enviada em: 11/07/2017

Pablo Picasso, em 1937, produziu o painel 'Guernica', que retratou a dor e o sofrimento da guerra civil que atingiu a cidade espanhola de mesmo nome da obra. Se o renomado pintor pudesse exemplificar em um quadro o drama da violência urbana brasileira, as bombas seriam substituídas por balas perdidas e os aviões alemães por poderosos chefes do tráfico. Em um cenário de caos e órfã do poder público, grande parcela da sociedade, especialmente a mais pobre, sofre diretamente, todos os dias, com a insegurança causada pela selvageria instalada no país. Portanto, entender as causas e consequências da violência urbana, a fim de combatê-la com eficácia: eis o desafio atual do Brasil.     Em uma retrospectiva recente, constata-se que a ocupação urbana desordenada contribuiu bastante com a escalada da violência. Uma vez que segregou a cidade, margeando a população mais humilde, a falta de planejamento do espaço dificultou o alcance a serviços básicos, como educação, deixando milhares de jovens em estado de vulnerabilidade ao aliciamento para o crime. A economista Kalinca Léia Becker comprovou, em seu trabalho de doutorado realizado na USP, que a escola influencia o comportamento dos alunos e reduz a violência, diminuindo a criminalidade em 0,1% cada vez que é investido 1% na educação, deixando claro, então, que investimentos nessa área geram resultados.     Contudo, o Brasil está indo na contramão dessa ideia, vide os altos índices de violência urbana. Informações divulgadas no Atlas da Violência 2017, através de um estudo realizado pelo Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, registraram, somente em 2015, quase 60 mil homicídios, ou seja, 30 mortes a cada 100 mil habitantes. Os números revelam o descontrole da situação e os motivos da sociedade se sentir tão insegura e tomar suas próprias iniciativas. Assim surgiu, no Rio de Janeiro, um aplicativo chamado Onde Tem Tiroteio, criado por cidadãos, para alertar outras pessoas, em tempo real, onde estão ocorrendo confrontos. Embora útil, expõe uma triste rotina da vida dos brasileiros.     Portanto, fica claro que a administração pública precisa se fazer presente no combate a violência urbana. Para isso, o Governo, através dos Ministérios da Educação e da Cultura, devem trabalhar para retirar os jovens da vulnerabilidade, por meio de investimentos na infraestrutura das escolas e na qualidade do ensino público, evitando a evasão escolar, além de projetos culturais, privilegiando a integração de toda a comunidade. Ademais, a nível local, municípios e estados são responsáveis pela segurança pública também, de modo que qualificando e fortalecendo as polícias civil e militar, através de cursos de reciclagem e criação de núcleos em locais mais críticos, melhorarão a relação entre polícia e sociedade e garantirão um combate mais eficaz e rápido à violência. Pois como disse Johann Goethe, estadista alemão, "A maior necessidade de um Estado é a de governantes corajosos."