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Enviada em: 25/01/2019

O Brasil é um país com vocação natural para a produção de alimentos. No entanto, de acordo com estimativas da FAO, cerca de 10% da produção nacional é disperdiçada. Perde-se comida na lavoura, no transporte, nos centros de distribuição e no manuseio caseiro, totalizando 19 mil toneladas por dia - conforme dados da Embrapa. Ao mesmo tempo, temos um cenário de fome e miséria, e, por isso, o disperdício é inaceitável.       De fato, a questão da carência alimentar é museu de novidades em terras brasileiras. Tanto é assim que Candido Portinari, em sua obra "Os Retirantes", pintou crianças e adultos vítimas de subnutrição com ossos destacados na pele. Em "Vidas Secas", Graciliano Ramos narrou a fome de uma severina família nordestina. Outrossim, historicamente, a fome foi uma das causas que desencadearam a Guerra de Canudos.       Além disso, há um grave problema na cadeia de consumo de produtos alimentícios, pois se faz a produção no campo e o consumo nas cidades, dependendo-se dos meios de transportes no meio do caminho. Assim, deficiências no trajeto (como rodovias mal cuidadas) ou transportes impróprios (como disposição de grãos em carrocerias que apresentam furos) proporcionam perdas e danos aos alimentos, e, com isso, esvai-se cerca de 50% da produção - conforme dados página Alimentação em Foco.       Portanto, na finalidade de honrar a frase de Caetano Veloso, de que as pessoas devem brilhar e não morrer de fome, é necessário revisar nosso modelo de consumo de alimentos. O Ministério da Educação deveria tornar obrigatória a participação de crianças e adolescentes em hortas escolares. Desse modo, professores poderiam ensinar aos alunos técnicas de produção de alimentos, e, concomitantemente, poderiam lecionar hábitos conscientes de manuseio e de aproveitamento integral de frutas e verduras. Isso eliminaria a distância entre a produção e o consumo, e, ao mesmo tempo, a produção poderia ser doada a instituições de caridade ou poderia ser vendida à comunidade local, diminuindo a fome com produtos frescos e de qualidade. Isso sim evitaria o disperdício com dignidade.