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Enviada em: 07/06/2017

Carne com papelão, frutas e verduras cancerígenas: está montado o atual banquete do brasileiro. Sabe-se que o crescimento e expansão da agroindústria, aliados ao desenvolvimento de tecnologias especializadas nesse setor, contribuíram para o aumento da produção alimentícia e, de certa forma, para a minimização do problema da escassez de alimentos no planeta. Entretanto, no Brasil, como em tantos outros países, quantidade e qualidade não caminharam juntas.        Um levantamento realizado pela agência reguladora ANVISA mostra que uma grande porcentagem de frutas e verduras consumidas em nosso país contêm níveis de agrotóxicos que extrapolam o limite permitido pela lei. Em outros casos, são utilizadas substâncias não autorizadas para aquele tipo de alimento. Tais compostos, a depender da quantidade consumida, podem levar a sérios problemas de saúde, como o câncer. Há tempos que o uso de agrotóxicos é prática comum, e o cultivo de forma orgânica, apesar de estar em expansão, ainda representa uma parcela ínfima desse mercado, além de esbarrar na questão da prática de preços elevados, quando comparados aos alimentos produzidos em larga escala.        Se não bastasse o excesso de agrotóxicos, no primeiro semetre de 2017, por meio de uma operação da Polícia Federal, descobriu-se várias irregularidades praticadas por empresas frigoríferas que também colocam em risco a saúde da população. Carnes misturadas com papelão, fora do prazo de validade e, novamente, com adição de produtos cancerígenos. Não bastasse todo esse cenário, ele ainda vem aliado a um esquema de corrupção e pagamento de propina. Mais uma vez, a corrida desenfreada por lucros, alimentada pela ganância e pela sensação de impunidade, sobrepõe-se ao bem-estar comum.       O comportamento alimentar brasileiro passa a ser, portanto, ditado pelos princípios da improbidade e da falta de interesse com o coletivo: anula-se a qualidade com vistas ao aumento da quantidade de lucro. Para mudar essa realidade é necessário que o Poder Público e a população trabalhem em conjunto: esta, deunciando e boicotando produtos fora dos padrões de qualidade e aquele, intensificando as fiscalizações, realizando auditorias internas, a fim de evitar a corrupção, e aplicando multas severas em quem descumpre as leis. Afinal, alimentar-se com de forma digna também diz respeito a alimentar-se com segurança.