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Enviada em: 24/07/2019

No Brasil, em decorrência da falta de criticidade de muitos cidadãos, tornou-se corriqueira a compreensão de que o consumo de alimentos ultraprocessados não afeta a dinâmica atual. No entanto, embora essa perspectiva permaneça no senso comum, naturalizando esse modo de pensar, é preciso notar o quanto esse ponto de vista é ingênuo ao desprezar aspectos sociais, culturais e econômicos.   O padrão de vida moderno afeta a alimentação. A falta de conhecimento sobre os males de tais produtos gera o aumento de seu consumo. O ritmo acelerado das sociedades atuais acarreta na procura de mantimentos mais duráveis e práticos. Esses entendimentos sobre o modelo alimentar contemporâneo, mesmo que simplistas, tendem a ressaltar fatores como os crescentes índices de obesidade. Em geral, quando a sociedade não se predispõe a assumir posturas críticas e sensatas, toda a atualização de valores fica propensa a exaltar padrões de conduta nocivos e desvirtuados que banalizam tal problema. Como se não bastasse, há de se atentar, também, à forma perniciosa como diversos segmentos sociais se comportam diante desse assunto, subestimando a necessidade da alimentação adequada para o desenvolvimento civil, já que alguém com melhor saúde tem melhor desempenho. Portanto, essa questão tem a capacidade de agredir o presente e violentar o futuro.   Por conta disso, no debate acerca dos industrializados na alimentação, é preciso enfatizar a urgência do investimento em um maior senso de corresponsabilidade coletiva. Dessarte, em consonância com as ideias da Teoria da Coesão Social, de Durkheim, e do poeta John Donne, não se deve perguntar por quem dobram os sinos, deve-se notar que dobram por todos. Desse modo é possível evitar a proliferação de posturas meramente acusatórias que, além de desprezarem a atuação pouco eficaz ou inexistente de agentes públicos, também agenciam o aborto de sonhos e o assassinato de esperanças, ao passo que o julgamento contra a indústria alimentícia aumenta, mas a falta de noção individual não é notada. Sob essa égide, mais do que se eximir da culpa para apontar culpados, os brasileiros devem atentar-se ao seu poder de ingerência e resolução.   Sem dúvidas, quando restrita a fatores inoportunos, qualquer iniciativa contra o alto consumo de comidas ultraprocessadas está fadada ao insucesso. Assim, faz-se necessário que o Estado, por meio da parceria do Ministério da Saúde com as mídias sociais, propague as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, que indica quais as recomendações alimentares, estimulando o desenvolvimento de criticidade para inverter o paradigma atual, garantindo a informação sobre a necessidade do direito à alimentação de qualidade. Afinal, parafraseando o filósofo grego Heráclito, a mudança deve ser o princípio fundamental de tudo.