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Enviada em: 27/03/2019

Ao trazer à narrativa uma perspectiva estritamente pessoal e estereotipada quanto às características necessárias a uma potencial parceira amorosa, o discurso de José, protagonista do Romance “O Seminarista”, de Rubem Fonseca, expõe a problemática da edificação feminina como instrumento de sedução. Nesse sentido, apesar de fictício, tal enredo denuncia a perpetuação de valores machistas e de submissão feminina na contemporaneidade. Com efeito, torna-se fundamental debater os impactos e consequências desse quadro, bem como formas de o interromper.   Em primeira análise, no âmbito da psicologia, consoante o pensamento de Simone de Beauvoir, a puberdade não configura entre a população feminina como uma etapa de transformação de ser dependente para autônomo, limita-se, tão somente, ao caráter biológico. Nessa perspectiva, é inegável que, por mais que sejam evidentes os espaços galgados pelas mulheres, nas últimas décadas, seu julgamento unicamente visual permanece na esfera publicitária. Prova disso, são os dados apontados por pesquisa da agência "Heads", segundo os quais, apenas 5,13% das peças publicitárias empoderam o segmento, sendo as demais, propagadoras de estereótipos de gênero.      Ademais, é válido ressaltar que a padronização da “mulher perfeita” pelos instrumentos midiáticos criou um culto à uma beleza irreal e, muitas vezes, artificial, que não valoriza os diversos biotipos humanos.Tal comportamento gera uma busca patológica pela aceitação social baseada no aspecto físico. No Brasil, não raro influenciadores digitais veiculam dietas e treinamentos extremos não condizentes com a aptidão da maioria dos internautas, os quais, muitas vezes, as seguem sem acompanhamento profissional. As consequências, por conseguinte, são frustrantes, pois além de causarem danos psicológicos, como insegurança e depressão, disseminam preconceitos, o que configura uma afronta aos direitos éticos e humanos.      Diante disso, a fim de combater a exposição indevida do corpo feminino em propagandas e valorizar sua figura, é necessário que as empresas e agências de publicidade e propaganda tenham consciência de seu papel social enquanto formadoras de valores e opiniões. Assim, cabe a esses órgãos proibir a utilização de imagens editadas e não condizentes com a realidade, de modo a não propagar distorções que possam afetar a integridade física e mental da população. Com isso, é importante que o Governo Federal, por meio de leis, criminalize a exposição feminina desrespeitosa ou de caráter sexual na publicidade. Só assim, quem sabe, dar-se-á um importante passo na luta pela igualdade e discursos como o presente no enredo de Rubem Fonseca serão desconstruídos.