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Enviada em: 04/06/2017

Aquela que não tinha a menor vaidade e atendia às expectativas de uma voz masculina que popularizou o seu nome, Amélia, através de uma famosa canção, tornou-se símbolo do que se espera do comportamento feminino: algo dócil e doméstico. Embora as mulheres, às custas de muita luta, tenham conseguido desestruturar esse status submisso e transformarem-se em protagonistas de suas vidas, há uma clara resistência a essa autonomia, o que pode ser facilmente percebido através da publicidade e da maneira como esta as representa.       Quando tenta vender um produto, anunciar uma marca ou rede de serviços, a propaganda busca, de modo geral, atrair a atenção de determinado público, aumentando o número de consumidores. Para tanto, são utilizados diversos artifícios, como uma linguagem conativa, marcada por verbos no imperativo, e imagens que estimulem os sentidos dos espectadores. Dentre esses mecanismos imagéticos, costuma-se apostar em certos padrões que, de acordo com os fatos observados na sociedade, respondem às demandas deste ou daquele grupo.      Em se tratando de produtos ou serviços destinados aos indivíduos do sexo masculino, como cerveja ou carros, pode-se observar, por exemplo, o uso da imagem feminina como elemento atrativo, representando a mulher como um objeto de desejo que pode ser conquistado caso o consumidor responda positivamente ao anúncio e adquira a ideia a ele veiculada. Neste sentido, a mulher perde a sua individualidade característica, ou seja, deixa de ser um indivíduo representativo do meio social e torna-se uma extensão do homem e de seus desejos.       Apesar de a mídia ser o lugar, por excelência, onde os papéis sociais são fidedignamente representados, é preciso ter em mente que o patriarcalismo remonta a uma época na qual a imprensa sequer existia. A ocidentalidade se estruturou desde as suas origens em torno de grupos sociais nos quais o papel da mulher sempre esteve associado a uma passividade ou incapacidade que a tornava aquilo que fosse da vontade masculina.          Desconstruir esse ideário, ainda hoje veiculado na publicidade e permitir que a mulher seja vista como um indivíduo pleno de potencialidades, requer algo além de um projeto de lei que defina regras para as condutas midiáticas. A escola pode, por exemplo, ressignificar o papel histórico-social das mulheres, trazendo à tona em seus currículos personagens femininos que foram ou são relevantes na comunidade na qual está inserida. O respeito se tornará uma prática eficaz, portanto, quando desde cedo os indivíduos passarem a enxergar uns aos outros além das predefinições sociais de gênero que apenas estimulam a desigualdade e a perpetuação de preconceitos, sobretudo, contra a mulher.