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Enviada em: 16/07/2018

O Ícaro da soja       O Brasil decrescia desde o ano de 2003 nos índices de subalimentação, culminando na sua saída, em 2014, do Mapa da Fome da ONU, que é um estudo feito pela organização identificando as nações que possuem índices superiores a 5% da população em baixa ingesta calórica; tais países são alvo de políticas e metas mundiais para reversão do problema. Entretanto, as últimas pesquisas feitas pelo IBGE evidenciaram uma ascensão do país quanto ao número de desemprego, pobreza e fome, cogitando-se a possibilidade de seu retorno ao Mapa da ONU. Tal premissa está atribuída aos cortes no orçamento de programas sociais promovidos pelo governo, ante a crise financeira e política que assola o Brasil, tendendo a expandirem-se perante a aplicação da PEC 241 de congelamento de gastos.       Doravante, não existe falta de alimentos no país, que é considerado como um dos maiores produtores mundiais no ramo da agricultura, destacando-se a monocultura da soja. Todavia, as mesmas políticas agroexportadoras que garantem a sua visibilidade internacional, paradoxalmente, deixam a sua população em abastecimento inadequado. Esse cenário reflete o parco investimento do Estado aos pequenos produtores, que são os maiores fornecedores do mercado interno brasileiro. Consoante a isto, medidas como o atual Projeto de Lei que visa a legalização de agrotóxicos proibidos internacionalmente, em votação no Senado, ameaçam a saúde pública, bem como a contaminação de mananciais e do solo, por uma tendência de aumentar-se a produção, sem almejar a qualidade do produto. Neste sentido, o Brasil posiciona-se como o personagem mítico Ícaro, que almeja grandes altitudes ao aproximar-se do sol, entretanto, esquece-se de suas asas de cera.       Portanto, para que o país não caia no mar de seus problemas sociais, deve-se efetuar uma política de avaliação anual dos programas governamentais, visando investimentos continuados àqueles que tiveram resultados satisfatórios à população e, consequentemente, aplicar-se o corte de gastos previsto pela PEC aos que demonstrarem pouco retorno social. Juntamente a isso, a POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), que começou a ser feita pelo IBGE no ano passado, 2017, tendo previsão de divulgação este ano, somada a outras variáveis, é essencial como norte das políticas públicas, bem como de militância contra os pontos fragilizados, através das ONGs. Sem essa análise financeira minuciosa, o Brasil estará desprotegendo as minorias e regredindo quanto aos avanços conquistados, correndo sim, o risco de retornar ao Mapa da Fome da ONU e, novamente, assemelhar-se à Bruzundanga.