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Enviada em: 22/08/2018

"Que seja seu alimento seu remédio", exortava Hipócrates, pai da Medicina, destacando o protagonismo da nutrição para o alcance da harmonia física. Contudo, relações sociais e produtivas conflituosas distanciam, ainda hoje, tal premissa da concretude. Assim, urge explicitar os paradigmas comportamentais e técnicos responsáveis por fomentar a problemática, a fim de que, superando-os, seja tangível alcançar o equilíbrio corpóreo pela garantia alimentar balanceada.    Em primeiro lugar, convém apontar os valores acelerados da modernidade como influenciadores dos maus hábitos à mesa. De acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman, a sociedade contemporânea é caracterizada pela rapidez com que estabelece contatos, bem como pela falta de solidez dos laços estabelecidos. De maneira análoga, a ligação do homem com seus víveres torna-se, paulatinamente, tão líquida quanto quaisquer outras. Nessa perspectiva, moldado pela instantaneidade, o indivíduo condiciona sua nutrição à superficialidade dos fast foods e condimentos enlatados, sem considerar o efeito inverso que estes representam à própria saúde.    Ademais, é fundamental considerar a ainda latente inacessibilidade a alimentos em nosso país. A partir da Revolução Verde, nos anos 70, os organismos geneticamente modificados e novos defensivos agrícolas fizeram parte de um discurso que se comprometia com a extinção da miséria. No entanto, a recente ameaça brasileira de volta ao Mapa da Fome comprova a dissolução dos ideais pretendidos. As controvérsias da produção agrícola nacional são, nesse ínterim, muitos mais profundas do que puramente tecnológicas, mas intrinsecamente ligada às concentração fundiária e ineficácia na distribuição efetiva.    Torna-se evidente, portanto, a necessidade de discutir com maior profundidade as questões envoltas no quadro alimentício brasileiro. Faz-se imperioso que instituições de ensino, cujo papel formador é inegável, elaborem planejamentos concretos no sentido de apoiar e informar seus discentes quanto à seara nutritiva. Para tanto, cabe incluir nesse projeto aulas periódicas centradas em noções básicas sobre saúde e bem-estar, de modo a estabelecer espaço regular para o aprofundamento teórico. Outrossim, é importante incluir em tais movimentos a participação de nutricionistas, os quais deverão possibilitar acompanhamentos específicos, visando à adequação alimentar que respeite as particularidades de cada corpo e realidade distinta. Concomitantemente, concerne ao Ministério da Agricultura conceder incentivos financeiros e fiscais à agricultura familiar, incumbida do abastecimento interno, com vista a baratear o preço final dos produtos. Dessarte, será possível valorizar e executar o ideal de estabilidade já proposto pelo grego Hipócrates.